12.3.10

Diálogos Platônicos


- Eu quero saber o que você ia falar.
- Nada de importante.
- Mesmo assim eu gostaria de saber, saber o que há contigo agora.
- Eu também.
- Espero que não seja nada comigo.
- Pode ser.
- E o que pode ser?
- Nada de ruim, simplesmente quando eu não tô muito legal você não tem a mínima paciência.
- Desculpa. Sou assim mesmo.
- Assim como?
- Meio sem paciência.
- Pois é. E eu sou uma chata. Disse que era chata. Muito chata.
- Chata, um saco, mas mesmo assim continuo gostando de você mais do que deveria.
- Pode até ser. Mas não tem paciência. Acho que nem eu tenho.
- Me beija.
- Onde?
- Onde eu possa sentir seu gosto.
- Mesmo que eu esteja meio amarga?
- Tá bom. Não quer não beija.
- Só fiz uma pergunta!
- Sim.
- Sim o quê?
- Mesmo que você esteja meio amarga.
- Puta que pariu!
- Eu já respondi sua pergunta. E daí?
- Como?
- Não se faz.
- Como assim?
- Tudo bem. Era apenas um beijo mesmo. Igual a qualquer outro.
- Se você queria por que não o fez?
- Quando? Onde? Como?
- Pois é exatamente o que eu gostaria de saber.
- Ontem, hoje, amanhã. Mês que vem, mês passado. No ano novo, no ano velho, no próximo século. Na minha cama, na sua cama, no cinema, no carro, no sofá, em cima desta mesa, na torre, no céu, no inferno, no banheiro, no motel, na praia, na serra, no restaurante, no bar, no shopping, no provador de roupas das Lojas Americanas. Como? Como, eu não sei.
- Eu ia perguntar exatamente isso: como?
- Do seu jeito.

- O que houve?
- Fiquei muda. Cega. Surda. Calma. Enlouquecida. Desmemoriada. Enraivecida. Convencida.... convencida de que eu preciso de você.
- Pra quê?
- Pra tudo.
- Eu amo você.
- Estou com fome.

- Às vezes odeio todos que me prendem. Às vezes preciso muito dos poucos que conseguem me prender.
- Eu consigo prender você?
- Já respondi isto.
- Quando?
- Quando disse que preciso de você.
- Eu também preciso de você. Mas às vezes parece que você não percebe isso e, outras, parece que você não precisa de mim.
- Simplesmente vivemos em uma ilha paradigmática repleta de diálogos platônicos.

André Takeda

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